Outubro é o mês que se assinala a data
do nascimento assim como da morte de José Cardoso Pires. Nasceu na aldeia de
São João de Peso, conselho de Vila de Rei a 2 de Outubro de 1925 e foi em Lisboa,
a 26 de Outubro de 1998, que viria a falecer.
Ao longo da sua carreira publicou vários
livros e conquistou vários galardões literários. Com “O Hospede de Job” venceu
o Prémio Camilo Castelo Branco, obra dedicada ao seu irmão que perdeu a vida
quando cumpria o serviço militar obrigatório.
“Na véspera, as mulheres tinham marchado
sobre a Vila e, todas em coro, apresentaram-se na Câmara. Pediam pão para casa,
trabalho para os maridos.”
Editado pela primeira vez em 1963 mas
escrito em 1953, O Hóspede de Job é um livro que descreve muito bem o Portugal
de então. Dessa forma descobrimos um país onde o desemprego abundava e a fome
era uma constante; onde as pessoas, pela força da necessidade, faziam muitos
quilómetros a pé na esperança de arranjar emprego; onde já existiam algumas máquinas
agrícolas, mas onde essas mesmas máquinas preocupavam os trabalhadores pois
pensavam que ainda iriam agravar mais a falta de trabalho; nessa altura os guardas
andavam pelas aldeias a cavalo e prendiam muitas pessoas por aspetos políticos
e os jovens eram obrigados a cumprir o serviço militar.
“Na grande maioria são homens-operários,
homens-camponeses, cobertos com uma farda que cobriu antes deles outros
operários, outros camponeses, ou pescadores”
O filho de Aníbal é um desses homens. No
quartel onde está fazem-se testes militares comandados pelo hóspede de job,
Gallager, um americano a mandar nas nossas tropas. João Portela, que esfomeado
andava naquela zona há procura de emprego fica sem uma perna por causa dos
testes militares, ele simboliza todos aqueles que ficaram sacrificados pela
tirania de uma ditadura. Tio Aníbal é o típico português que se preocupa com a
vida dos outros. Floripes, uma jovem, está pressa numa cela por cima de uma
Igreja, sitio onde já poucas pessoas rezam.
“Tu não pertences aos presos comuns…”
Este livro reaviva o passado para que
essas memórias não sejam esquecidas, mas existe uma pergunto inevitável: Como é
que a PIDE autorizou a publicação da obra?
Boa leitura…
Olá Tiago
ResponderEliminarEncontrei hoje esta notícia do Expresso. Segundo o pdf anexo à notícia, "O Hóspede de Job" foi também censurado. Contudo, tem um asterisco à frente do nome, a o autor (José Brandão) diz que:
"Os títulos assinalados com asterisco (*) estavam sujeitos a uma
proibição especial, variando entre a Metrópole e as Colónias, ou viram
alterada a sua situação face à Censura."
o link é:
http://expresso.sapo.pt/os-900-livros-que-a-censura-proibiu=f720543
Ficamos ainda sem saber o que aconteceu de facto a este livro, mas...já é mais qualquer coisa.
Olá Cristina,
ResponderEliminarObrigado por ter partilhado essa informação.
Vou agora publicar no blog a carta que autorizou a publicação de O Hóspede de Job, julgo que o livro deve ter sido censura posteriormente a este despacho. Uma coisa parece certa, a primeira edição foi autorizada pela PIDE.
Agora tenho vontade de ler mais livros deste autor português. Gosto muito de aprender mais sobre o passado de Portugal para compreender melhor o seu presente (assim que a língua, claro). Pelo momento, li só contos dele, assim que tenho uma obra inteira para descobrir. Tem otras sugestões sobre este periodo?
ResponderEliminarOlá Corvo da República
ResponderEliminarNão sou um apaixonado por romances históricos, é verdade que este livro é um romance histórico, mas não o era quando foi escrito, na altura retratava o país de então.
Dos Romances históricos que li aconselho O Planalto e a Estepe de Pepetela, retrato o que se passou em África, o livro começa nos anos 60 e vai até aos dias de hoje:
http://sugestaodeleitura.blogspot.pt/search/label/O%20Planalto%20e%20a%20Estepe
José Rodrigues dos Santos em Anjo Branco também faz uma excelente reconstituição histórica: o livro começa nos anos 40, a discrição de como era Lisboa nessa altura é magnífica, depois é África e o racismo é o tema central:
http://sugestaodeleitura.blogspot.pt/2011/05/o-anjo-branco-jose-rodrigues-dos-santos.html
João Ricardo Pedro em O Teu Rosto Será o último também fala da nossa história:
http://sugestaodeleitura.blogspot.pt/search/label/O%20Teu%20Rosto%20Ser%C3%A1%20o%20%C3%9Altimo
António Lobo Antunes em Comissão das Lágrimas descreve maravilhosamente o período em que milhares de portugueses abandonam Angola (1975), mas em Lobo Antunes encontramos muito mais do que uma reconstituição histórica:
http://sugestaodeleitura.blogspot.pt/search/label/Comiss%C3%A3o%20das%20L%C3%A1grimas
Boas leituras.