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sexta-feira, 1 de março de 2013

o apocalipse dos trabalhadores - Valter Hugo Mãe

              
Valter Hugo Mãe é um dos escritores de língua portuguesa que mais admiro. Ao ler o apocalipse dos trabalhadores consolidei a opinião que tinha sobre o escritor. Ele tem uma sensibilidade extraordinária, as suas personagens revelam uma capacidade fora do comum de se por no “lugar do outro”. Recordo que o escritor tem apenas quarenta e um anos, o que torna ainda mais raro este tipo de escrita nessa idade.
                 Foram vários os “murros” que levei no estomago ao ler o romance. Neste livro fala-se de muita coisa, mas é sobretudo a felicidade humana que é questionada. Confesso que VHM abordou o tema por pontos de vista que não tinha pensado, e isso levou-me a chegar a conclusões que nunca me tinham passado pela cabeça. Mas será que somos uma “máquina de trabalho a caminho da felicidade e nada mais.”
                Maria da Graça era quem fazia as limpezas na casa do senhor Ferreira. Acabam por ter uma relação amorosa. O senhor Ferreira “era um homem cheio de razões para viver, estava reformado, tinha dinheiro, sabia coisas, apreciava ainda os prazeres mais elementares” mas para grande surpresa suicida-se.
                Quitéria é a grande amiga de Maria da Graça, ganha dinheiro indo a funerais, tal como a amiga vive num bairro social. Apaixona-se por Andy um ucraniano a trabalhar nas obras que veio para Portugal tentar proporcionar aos pais uma melhor alimentação na Ucrania. Quando Andy soube que iria ganhar 300€ por mês “acreditou que nunca mais passaria fome”.
                Augusto, o marido de Maria da Graça, era pescador, por isso passava meses fora de casa, mas ao casal só o casamento os unia, todo o resto não existia. Por vezes, batia na mulher e acretiva que Graça não tinha desejos sexuais.
                A felicidade e a aparência de felicidade; as frustrações da vida; a dura vida de quem é pobre e tem poucos recursos; o mau que é viver num país onde ninguém nos entende e onde ninguém percebe a língua que falamos; a histórica fome na Ucrânia ou a alegria de viver são apenas alguns dos temas abordados.
                No final do livro, pelos menos aqueles que não tenham um coração de pedra, serão certamente mais humanos e “menos máquinas”. No meu caso, confesso que passei a olhar os imigrantes com outros olhos.
                Grande livro, parabéns Valter Hugo Mãe
                Boa leitura…


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